Apesar de, ou por causa de, tantas mudanças e transformações no mundo, algumas narrativas ditam nosso tempo. Na minha perspectiva, a que estão coexistindo nesse nosso tempo/espaço é da Inteligência Artificial e “ESG”. De um lado nossa obsessão por inovação, tecnologias, superação, eficiência e progresso, e, em uma via paralela a essa, nossa preocupação misturada com culpa tentando achar uma forma de seguirmos o (des)envolvimento junto à preservação e a responsabilidade.
Acho bem curioso como essas narrativas coexistem. E como temos enorme dificuldade em fazer escolhas que sejam capazes de produzir E preservar ao mesmo tempo. De novo, na minha perspectiva, existe uma dificuldade nessa mudança de paradigma porque se existe a possibilidade de se ganhar MAIS (o que quer que seja) por que escolheríamos ganhar MENOS, E TAMBÉM, preservar?
A falta de paciência, a pressa, o esgotamento, disfarçados de falta de tempo nos impede de avaliar melhor essas escolhas OU/OU, não nos perguntamos o que estamos escolhendo conservar de fato. Muitas vezes conservamos nossa sensação de pertencimento à empresa, porque se vamos contra a diretoria ou se argumentamos que não é necessário chegarmos ao limite somos fracos, pouco ambiciosos e não merecedores de estarmos em nossa posição.
Se escolhermos as relações em detrimento as transações somos pouco objetivos, somos muito moles e não temos pulso firme, não somos competentes e mais uma vez, somos rotulados por não termos o perfil de uma liderança do futuro. Contudo, estamos carecas de saber sobre pesquisas que comprovam as consequências para bebês que não recebem atenção, toque e afeto nos primeiros anos de vida. Eles podem desenvolver deficiências cognitivas significativas e até chegar a óbito. E isso não se restringe à primeira infância. A psicologia social também verificou que o ostracismo é capaz de levar pessoas saudáveis à depressão e à morte.
LEIAM O JORNAL! Me digam do fundo do coração de vocês, gostam do que leem? Eu e André Monc, ao lermos as notícias, nos assombramos com o que somos capazes de fazer, positiva e negativamente. Para nós a relação vem sim, antes da transação. O afeto deve ser conservado simplesmente porque ele é a única cola, forte o suficiente para nos orientar nas encruzilhadas da vida e para que coletivamente a gente consiga produzir, sobreviver e realizar todos os feitos que quisermos realizar. Sem afeto, essa própria produção e esses mesmos feitos nos aniquilam ou mentalmente como a onda de burnout e depressão que nos metemos e fisicamente, como todos os episódios de catastrofes ambientais e das guerras que acompanhamos pelos noticiários.
O afeto é revolucionário, pessoal! Portanto, amans! Amans, para nos lembrar que o afeto importa, que é isso que queremos conservar, que é isso que queremos inspirar e evocar nas relações e nas tomadas de decisão para que as narrativas andem lado a lado em uma só estrada, com sentido, direção e propósito de tirar a gente da enrascada que a gente se meteu.
Até o próximo causo!
Mari Carvalho.