O autoconhecimento e o creme dental

Tenho uma memória sensorial bem antiga, de quando eu era bem criança. Certa vez eu me peguei pensando – hoje sei que é reflexionando – sobre as propagadas de creme dental que passavam na televisão. Sentia algo parecido com propagandas de outros produtos mas, por alguma razão qualquer, as de creme dental me chamavam mais atenção.

A questão inquietante era simples: por que todas as marcas e modelos de creme dental prometem te deixar com os dentes mais brancos?

Ora! Se assim fosse, alguma dessas marcas estariam mentindo. Ou pior, todas elas estariam mentido. E eu notava isso na minha própria experiência, aparentemente meus dentes ficam igualmente brancos independente da pasta de dente que eu usava.

Nesse momento eu comecei a desconfiar em propagandas de forma geral. Todas passaram a me soar meio que uma trívia para convencer gente que X deixa os dentes mais brancos que Y e Y também deixa mais os dentes mais brancos que X. Bom, descobri que as propagadas de televisão são, em essência, tendenciosas na melhor das hipóteses ou mentirosas mesmo na pior das hipóteses.

Mais tarde na vida, depois de alguns anos de experiência comecei a notar que não eram apenas as propagandas de grandes marcas de refrigerante, automóveis, bancos e políticos – esses dois últimos são especialmente maldosos nas propagandas. As pequenas conversas, desprendidas, ocasionais ou até mesmo as mais importantes, são repletas de “propagandas”, igualmente com o objetivo de gerar convencimento ou enganar.

Aquela paquera inicial com a crush que mostramos só “um lado” … As ofertas e entrevistas de emprego… As importantes reuniões nas empresas para avaliar o ano e se preparar para o próximo… Até mesmo algumas publicações e divulgações acadêmicas entram no bolo.

Mudando um pouco o papo: eu sempre trabalhei com desenvolvimento de pessoas e equipes de trabalho, seguindo meu ímpeto de entender o fenômeno humano no âmago mais âmago que eu desse conta. Nesse contexto tem um termo muito comum que sempre me chamou atenção: autoconhecimento.

Esse termo me parecia ser a grande chave do mistério de existir dessa forma que existimos, que ao mesmo tempo é hiper conhecida – sabemos todos que jiló é ruim – e absolutamente misteriosa – qual é o sabor de uma grande paixão que dura uma vida inteira?

Dito isso, passei a notar que, assim como no caso do creme dental, todos os propagandistas do autoconhecimento afirmam que seu método, prática, espiritualidade, ritual é o melhor caminho para saber “de verdade” quem você é, ou quem eu sou – o que é impossível. Se você tiver curiosidade vá atrás de Francisco Varela, Evan Thompson, Anil Seth, Lera Boroditsky, John Searle, Uri Hasson, Humberto Maturana.

Considerando o nosso insano e cansativo estilo de vida, passamos a correr de um lado para o outro na esperança de algum dia encontrar uma forma de acesso ao nosso eu e sermos capazes de transformar totalmente a nossa própria vida.

Acho importante dizer que mão estou dizendo que a gente não deva buscar autoconhecimento, assim como não digo para paramos de usar creme dental só porque todos dizem que o meu creme dental é que deixa seus dentes mais brancos.

Na amans buscamos outro caminho. Um caminho que não busca entregar um método inovador, o “ultimo cajuzinho do verão. Não queremos dizer que achamos que os métodos já inventados são insuficientes e que nós desenvolvemos um mais forte, mais potente – e mais caro.

Focamos naquilo que nós é mais fundamental e que nos permite, como espécie, fazer tudo, absolutamente tudo, que fazemos, desde um churrasco de final de semana até a gigantesca logística mundial que envolve as empresas aéreas.

Tudo acontece na conversa e nada fora dela. Assim, nossa oferta é bem simples, prática e gera resultados. Nós criamos as condições para que conversas que geram criatividade, senso de pertencimento, resultados práticos aconteçam e sejam conservadas.

Seguimos conversando,

André Monc

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